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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Dr. Malcon Montgomery fala para homens e mulheres como ter uma gravidez com saúde e tranquilidade


Lubaque - O que representa o mundo feminino para senhor?


Dr. Malcon Montgomery – Eu fui criado por mulheres, pela minha avó. Então eu criei um respeito muito grande pelas as mulheres. E minha avó era muito sensível, inteligente, intelectual. E foi aí que resolvi fazer ginecologia. E também porque não gostava da especialidade que tinha muita morte. Eu gostava da que tinha nascimento, a que tinha mais contato com a vida.

Lubaque - O senhor atua como psicólogo no seu consultório?

Dr. Malcon – Eu sempre fui muito questionador. E uma vez questionei aos seis anos sobre determinado assunto na aula de religião: se Deus é tão bonzinho, como à senhora fala (professora), porque ele não fica amigo do diabo e acaba com essa confusão toda. É a lógica da criança. É como meu filho que me perguntou: porque milho verde não chama milho amarelo ao invés de milho verde?
E na faculdade também fui assim. E o questionamento esta na minha vida até hoje. Se você pega uma mulher do sul deste os valores são mais igualitários, se você pega uma região do Brasil onde a menos escolaridades a mulher já é oprimida. Então quando você percebe os valores dos pacientes a forma que são tratadas as coisas se complicam. Na região religiosa a mulher é sempre inferior. A mulher tem o estigma de que tem que parir com dor. A dor do parto era o castigo divino. E eu não concordava com essas coisas. Eu pensava: acho que você pode da à luz com menos dor. Então eu sempre olhei o lado da mistura genética. Porque se você olhar pra uma pessoa de raça pura a incidência de câncer é maior. E se você olhar pra uma pessoa de raça mista como a nossa a incidência de câncer é menor. E se você pega uma pessoa mais religiosa, ela tem mais culpa. A que tem mais culpa, sofre mais a retardação da culpa.
É assim se você tirar o útero de uma mulher no nordeste, ela já pensa: o meu marido não transa mais comigo. Agora aqui não, não tem problema algum.

Lubaque - Em que momento a mulher se senti mais frágil numa gravidez?


Dr. Malcon – Eu tenho certeza que a gravidez é período muito mais frágil que a menopausa. Porque a gravidez é uma crise no sentido orgânico, psicológico e social. Se a mulher tem diabetes que esta controlada, na gravidez ele descontrola. A gravidez é forma de expor o organismo da mulher. Se ela tiver uma depressãozinha escondida, na gravidez vai aparecer. Porque a gravidez é uma prova de força. Quando uma criança se desenvolve numa mulher, ela cria uma fantasia absurda do que seria ser mãe. Então depende da imagem dessa mulher ser mãe, ela vai ter mais possibilidade de lidar com a gravidez dentro dela. Se ela tiver mais dificuldade em aderir esse papel de mãe, ela vai ter mais dificuldade de gerar. Quando a criança nasce, tudo muda. O vínculo com seu pai, irmão, no trabalho, etc.

Lubaque - E no caso de pais e filhos?

Dr. Malcon – Muito pai fica enciumado quando o filho nasce. Porque nasce também a divisão de afeto. Isso que representa o nenê. Além de uma parte ligada à vaidade. Tanto que é muito difícil para um casal aceitar um filho Down. É a idealização e a realidade. É a idealização amorosa da mulher em relação ao filho. É por isso que a gravidez é sempre uma coisa conflitiva em qualquer situação, mesmo no cenário ideal que é: mulher madura, condição financeira boa, ama o homem que esta e quer ter um filho. E é normal que tenha conflito. Quando uma mulher acha tudo maravilhoso numa gravidez, aí é perigoso. Essa mulher pode até ter uma depressão pós-parto.

Lubaque - Falando em depressão pós-parto. É uma realidade que atinge quanto por cento das mulheres? E como preveni-la?

Dr. Malcon – É uma realidade que atinge 20% das mulheres. E para preveni a depressão é uma mulher que se expressa naturalmente na parte dos sentimentos negativos e positivos. Tem uma situação até cultural que diz que a mulher não pode ter sentimentos negativos, ou seja, pega uma mulher no ambiente social com amigos, então ela diz que chata essa barriga esse moleque aqui. A primeira coisa que ela vai ouvir é: não fala assim, ele vai escuta e vai nascer sem entender. E não é assim. Quanto mais à pessoa se expressar é melhor. Qualquer pessoa pode esta desconfortável com a barriga. Então quanto mais ela se expressar da maneira que se sinta melhor é bom. O bebe que ela vai ter precisa receber pelo cordão umbilical todas as químicas. Química da alegria, química da tristeza, da euforia, do ódio, da frustração. È importante que o bebe sinta tudo isso. O bebe que vai nascer não vai ser um robô. Então quanto mais ele for banhado por todas as químicas dos sentimentos mulher, melhor. Ele já vai ter uma sensibilização de todas elas. Isso tudo é imunização, anticorpos. Se pega seu filho e o protege de

“A depressão pós-parto engana muito, as pessoas só pensam que é melancolia, tristeza, não querer sair de casa, não é só isso. A depressão tem outras mascaras, como, obsessão; limpeza, não pode pegar em nada; mania, persecutoriedade, ninguém pode pegar no meu filho, e tantas outras formas. E tem que ficar atento porque pode acontecer seis meses depois!”

Lubaque - Qual a melhor forma de administrar a gravidez?

Dr. Malcon - É assim, numa gravidez a mulher tem mudanças radicais na sua vida, tanto social, psicológica e orgânica. É uma crise. Se essa mulher não tiver preparo pra administrar essa crise, ela vai sofrer mais em todos os sentidos. Se a mulher vem aqui e tem um corrimento branco, e ela for imatura, ela vai achar que esse corrimento é um câncer. Se a mulher for madura, com valores mais sólidos, uma autoestima boa e vir aqui com um câncer de mama, ela pode administrar melhor o que tem, do que a outra que não tem nada. Como uma pessoa administra o que tem? Depende o que ela tem de equilíbrio emocional. Isso se chama maturidade.

Lubaque - E os familiares mais próximos como devem agir?


Dr. Malcon - Quando uma mulher engravida da uma infantilidade, ela regride. Nessa questão o marido, a mãe dela, a sogra ou o médico, pode contribuir para ela progredir na infantilidade ou mantê-la. É que nem uma mulher que chega ao consultório e diz que tem pavor a parto, e que não pode nem pensar em dar à luz. Eu digo a ela, fica tranqüila que eu vou te dar uma pílula dourada e você não vai sentir dor alguma. O que eu fiz, ela chegou infantilizada, eu não discuti por isso, passando para pílula o problema dela. Porque como ela esta infantilizada, ela transfere o real problema para outro. Então cheguei a descobri casos que na verdade o marido traia a mulher e deixava claro que quando ela ganhasse o bebe a deixaria. Isso se chama somatizar. É que nem muitas mulheres que usam a gravidez para ganhar presentes, manipulam esse momento. Os desejos que elas sentem na gravidez, isso nada mais é que a afirmação do amor por ela. É como se você trouxe o doce que ela tanto queria você matou o dragão do castelo. É legal fazer isso, mas tem que ter limite. Se não a família a infantiliza.

Lubaque - E o homem como deve se comportar numa depressão? Qual o papel dele para ajudá-la?

Dr. Malcon – Eu costumo dizer que o melhor pré-natalista do mundo é o bom companheiro. Porque o homem que tem maturidade, humildade para perguntar ele vai ajudar. Porque quando nasce uma criança, se tem vários nascimentos. Nasce um pai, uma mãe, um tio, uma avó. E cada um vai ter seu papel, tanto pra ajudar como para atrapalhar.

Lubaque - Alguns homens dizem que estão sentindo sintomas de gravidez, quando a parceira esta grávida. Qual é a verdade sobre isso?

Dr. Malcon – Eu tive um caso que a mulher teve três partos e em todos eles o marido teve Cálculo Renal. Então cada vez que ela dava à luz, ele dava a luz da pedra do Rim. Mas assim mexe com os dois, o homem são fantasias, ele fica pensando se o filho é dele. Porque a maternidade é um fato, a paternidade não. A situação do pai é uma adoção, a mãe esta ligada com o filho pelo cordão umbilical. A mãe tem que se libertar do filho o pai tem que adotar.

Lubaque - Quais são os problemas que as mulheres mais trazem ao seu consultório?


Dr. Malcon – Na ginecologia geral sangramento do ciclo, cólica menstrual, enxaqueca, corrimento. Na área da sexualidade é desejo, orgasmo. Na área da obstreticia é a vontade de programar a gravidez, umas querem março outras e dezembro.

Lubaque - Qual é o melhor parto para a mulher o normal ou Cesário? E como escolher o melhor para cada situação?

Dr. Malcon – O melhor parto do mundo é a criança nascer bem e a mulher passar bem também. Há uma hipervalorização que no parto vaginal a mulher senti mais dor, mentira. A qualidade maternal se inicia depois que a criança nasce.

Lubaque - O senhor recomenda as mulheres há ficarem mais tempo sem mestruarem. Quais são as técnicas para a interrupção? E quais são as vantagens e desvantagens?

Dr. Malcon – Pílulas seqüenciais, injeções, o Diu que para de menstrua e os implantes.

Lubaque - O senhor teve muita critica em relação aos hormônios que inibem a menstruação?

Dr. Malcon – Muitas criticas. Nós começamos a fazer em 1980. Eu trabalhava com o Marco Cotin, que trabalhava com hormônios. E a gente tinha muita infertilidade aquela época sem saber o porque. Na verdade o que estava por trás era Endometriose. Então a gente usava esses implantes hormonais (progesterona) pra inibir a endometriose. E como dávamos doses altas que eram por injeções, elas ficavam sem sangrar três, seis meses. Com isso elas não tinham cólicas, não sangravam, estavam se sentindo muito bem assim. Tudo começou com as injeções, logo depois vieram os implantes. Depois veio a suspensão da menstruação, ou suspender a TPM, tirar a endometriose, enxaqueca. Hoje em dia tem vários médicos que faz suspensão de menstruação. Aquela época o índice de aceitação era muito baixo. Na verdade muitas mulheres não queriam menstrua, então eu recomendava que elas continuassem a tomar a pílula o mês todo, porque já tínhamos a convicção de que não tinha problema algum, mas muito médico não. Hoje já não tem que fale ao contrário.

Lubaque - Qual a função do anticoncepcional?

Dr. Malcon – A mulher quando grávida para de ovular. E a pílula nada mais é que esse mecanismo de falsa gravidez. Porque ela inibe a ovulação. Aquela para da de uma semana que dava na pílula, era para tentar da uma falsa sensação de menstruação. A mulher sangrava três, quatro dias e dava a sensação de que estava mestrando, mas na verdade estava sangrando porque ela parava a pílula. Então quem dizia que a mulher menstruava, não sabia o que falava.


A quantidade de hormônio nas pílulas anticoncepcionais em cinqüenta anos passou de 150mg. para 15mg. por dia. Foi uma evolução muito pontual na independência da mulher”.

Lubaque - Tem-se uma idéia de que a pílula faz a mulher engordar. Que tem efeitos colaterais, às vezes ruins. Fale um pouco sobre isso.

Dr. Malcon – Depende da pílula. Tem pílulas que a pessoa perde peso; outras ganham peso; outras perdem libido, outras não. Tudo tem que sem bem adaptado, o que não pode é generalizar. Agora todos aticontraceptivos que existe servem para proteger a fertilidade da mulher. Se ela sangrava seis dias, e passa a sangrar quatro, esta protegendo ela, contra endometriose.

Lubaque - O que pensa sobre a questão do aborto?

Dr. Malcon – A minha visão sobre o aborto é muito clara. O aborto existe a gente é contra, agora é claro, não é porque somos a favor da anticoncepção, que não vamos discutir sobre a questão do aborto. Nós não podemos deixar as mulheres morrerem de aborto. Existe um milhão de abortos de adolescentes no Brasil. Então é um assunto que deveria ser discutido na medicina social, porque ele existe, mata muita mulher e deixa tantas outras inférteis. Então a jamais deixaria de discutir a criminalização e a descriminação do aborto. Porque nós sabemos que o aborto é feito em um nível marginal. Porque num país onde é legalizado, não tem mais aborto do que num país que não é.

Lubaque - Como é ser considerado o médico das ‘estrelas’ e das mulheres no geral?

Dr. Malcon – Uma tremenda de uma bobagem. Porque eu sou médico da mulher.